80% dos DOFs frios foram emitidos em Itaituba
Um esquema que contribuiu até para bancar campanha política foi desvendado pela polícia federal nos últimos dias em Itaituba. "Um sistema que prometia moralizar a exploração de madeira vira novo foco de corrupção".
Segundo relato da revista VEJA, "tão rica quanto a biodiversidade da Amazônia é a veracidade dos golpes aplicados para saquear seu recursos naturais".
O governo federal em setembro de 2006 implantou o sistema de controle de extração da madeira. Ele foi apresentado como um mecanismo à prova de fraudes. Com esse novo sistema o governo, através do IBAMA, acompanha, por meio de um documento de origem florestal - DOF, emitido eletronicamente todo o processo de extração e comercialização de madeira, desde a derrubada de árvores até o ponto de venda final.
Uma investigação da Polícia Federal mostrou que o DOF demorou apenas dois meses para ser fraudado.
Em novembro de 2006, três funcionários do IBAMA no estado do Pará, montaram um esquema de emissão de documentos de origem florestal. Com isso, em apenas cinco dias aplicaram um dos maiores golpes ambientais da história. Segundo a Polícia Federal, na sede do IBAMA em Belém era emitido um documento frio a cada sete segundos.
O esquema despachou documentos frios para a venda de 760 mil metros cúbicos de madeira cortada ilegalmente. O equivalente a 100 mil árvores ou R$. 700 milhões de reais.
Esses documentos frios foram emitidos por em nome de 65 madeireiras. A principal delas, a J. O. Lima, (Jesiel O. Lima) com sede em Itaituba, ficou com 80% dos documentos. De acordo com a apuração da PF, a madeireira J. O. Lima não passa de uma empresa laranja. Em seu endereço, no bairro Bela Vista, em Itaituba, "há apenas uma sala abandonada". E segundo um madeireiro residente na comunidade Moraes de Almeida, "esses DOFs ainda podem ser vistos nas rodovias de Itaituba". O cidadão disse ainda, que o dinheiro da venda desses documentos foi usado em campanha político de candidato de Itaituba.
A madeireira J. O. Lima não foi a única a ficar com os DOFs frios, mas repassou para outras 98 madeireiras da região, do Pará, do mato Grosso e Rondônia. Por determinação judicial, todas estão com os bens bloqueados e não podem mais receber autorizações de exploração de madeira.
A Polícia Federal descobriu também que mais da metade dos documentos de origem florestal da madeireira J. O. Lima já usaram os documentos para liberar dezenas de carregamento ilegalmente. "Não resta dúvida de que o sistema implantado pelo governo federal em setembro de 2006 é vulnerável", afirmou o Juiz Rubens Rollo, responsável pelo caso.
Ainda de acordo com a polícia federal, os três funcionários do IBAMA conseguiram jogar no mercado, 19 mil DOFs falsos. E o trio de corruptos cobrava R$ 20 reais para cada metro cúbico de madeira liberado ilegalmente. E a propina ultrapassou R$. 15 milhões de reais.
O trabalho da Polícia Federal continua, e segundo o juiz Rubens Rollo os nomes dos envolvidos são mantidos em sigilo e o processo correrá em segredo de justiça. Sabe-se que em Itaituba e região tem várias pessoas envolvidas e tão logo a PF concluía as investigações, os suspeitos serão presos e naturalmente conhecidos da população.
Segundo uma fonte da polícia federal, "é surpreendente o número de pessoas de Itaituba e região envolvidas no esquema de DOFs frios; mas esses fraudadores não ficarão impunes".
Lúcio Freire
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