20 novembro, 2006

Garimpos adoecem o rio Tapajós

Mercúrio: Peixe da região registrou nível recorde de contaminação
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A contaminação por mercúrio de áreas de garimpo na Amazônia é um problema alarmante. Um exemplo disso é que o peixe mais contaminado por mercúrio já encontrado em todo o mundo estava nas águas do rio Tapajós, às proximidades do garimpo 'São Chico', no município paraense de Itaituba. O contágio estimado beirou os 60% nos peixes de grande porte do rio Tapajós. Além disso, milhares de pessoas se alimentam basicamente desses peixes. Na rodovia 'Transgarimpeira' – como é chamado o trecho da BR-163 entre os municípios de Novo Progresso e Trairão – 60% da população ribeirinha estão contaminados por mercúrio. Deste universo, 50% relataram gosto metálico na boca, tremores e palpitação e 40% tinham sensações de formigamento, adormecimento ou ardência nas mãos e pés. A conseqüência mais grave é o dano irreversível ao cérebro humano.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estipula 0,5 ppm como índice aceitável de presença de mercúrio, mas, no rio Tapajós, foram registrados 22 ppm num peixe carnívoro (o maior índice de contágio do planeta). Às proximidades do 'São Chico', duas traíras – uma das espécies mais consumidas da região – registraram de 19 a 20 ppm de contaminação. Ppm quer dizer 'parte por milhão' e é uma medida científica usada para estimar a concentração do metal em soluções diluídas.
Nos últimos 15 anos de atividade garimpeira na pequena vila de 'São Chico', onde vivem cerca de 150 pessoas, já foram extraídas três mil toneladas de ouro. O resíduo que esse garimpo gerou na natureza foi a emissão de 7,5 mil toneladas de mercúrio no meio ambiente. A contaminação foi confirmada pelos estudos da primeira fase de implantação do projeto 'Mercúrio Global', coordenado pelo chefe do Global Mercury Project (GMP) do Canadá, Marcelo Mariz Veiga. A pesquisa feita em rios marginais ao Tapajós revelou o risco de se comer peixe contaminado por mercúrio a partir de duas comunidades paraenses. A avaliação concentrou-se nas duas áreas de garimpo de ouro na bacia do rio Tapajós onde estão as maiores reservas garimpeiras de ouro do País: 'Creporizinho' e 'São Chico'. Ambas ficam a cerca de 500 quilômetros da sede do município de Itaituba.
A principal área onde houve recomendação da proibição do consumo de peixes foi na barragem do 'São Chico'. 'Há mais de 40 anos não há treinamentos para esses garimpeiros', ressalta Marcelo. Como instituição associada para a execução do 'Diagnóstico de Saúde no Brasil', o trabalho do GMP foi feito em parceria com o Centro de Tecnologia Mineral (Cetem) do Ministério da Ciência e Tecnologia e o Instituto Evandro Chagas, de Belém.
Para o estudioso, vários fatores contribuem para a contaminação do meio ambiente por mercúrio. A inexperiência em trabalhos em garimpos e os altos custos operacionais são alguns deles. 'O cianeto é menos poluidor do que o mercúrio. É mais eficiente para extrair o ouro do que o mercúrio, só que é muito mais caro. Por isso que os garimpeiros não usam, só as grandes empresas', avalia Veiga.
O estudioso considera que a legislação brasileira sobre a utilização do mercúrio é uma das mais atuais do mundo, juntamente com a vizinha Guiana Francesa, onde o elemento químico só pode ser manuseado via licitação. Mesmo assim, com o potencial de consumo gerado no País (o Brasil importa 45 toneladas de mercúrio da Comunidade Européia ao ano), o controle não é tarefa das mais fáceis. A Amazônia envia mercúrio à atmosfera numa taxa que varia entre 40 e 60 toneladas por ano. Na exploração do ouro – uma das principais atividades econômicas da região - utiliza-se até 2,5 partes de mercúrio para cada parte de ouro garimpada.
Fonte: O Liberal

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