20 abril, 2007

Meu reino por uma pílula!

Antes de qualquer interpretação apressada, não sou hipocondríaco. Muito pelo contrário: detesto ir ao médico, visitar amigos ou parentes no hospital e sou extremamente indisciplinado para acompanhar qualquer receita médica (ir ao médico já é um sacrifício!). Na verdade, tudo isso acaba sendo causa e efeito de uma série de maus hábitos que cultivei na juventude e que enfraqueceram muito cedo o organismo que não aprendi a cuidar. Já até falei sobre isso em artigo anterior, sobre obesidade e sedentarismo.
Cheguei a tal situação que já criei uma tabelinha para administrar minhas dores: segundas e quartas são dias de dor de cabeça e nas articulações; terças e quintas dor de dente, de ouvido e das vias nasais; sextas e sábados, a famigerada dor de barriga. Aos domingos, como não sou de ferro, sinto dores de dente, de barriga, de ouvido, das narinas e da cabeça o dia todo... Por isso é que atualmente vivo na chamada fase do Homem-Condor, ou seja, vivo reclamando que estou com dor disso, com dor daquilo...
Daí porque vivo atrás de pílulas! Meu reino por uma pílula para aplacar as dores!
Mas antes de falar nelas, tenho que dizer que em termos de cuidado com o corpo fui um péssimo discípulo de meu pai que naõ cansou de me ensinar: “nosso corpo é como uma máquina. É preciso saber usá-la e conservá-la, cuidando de cada engrenagem para que a máquina não quebre”. O velho grego, maquinista de si mesmo, hoje no alto de seus 86 anos esbanja saúde e está tão enxutíssimo que sempre digo a ele que ainda vai acabar enterrando os filhos (toc, toc, isola!)!
Aposentado, o velho Ninos resolveu curtir a vida na terra natal, trilhando os caminhos de Alexandre, o Grande, na velha Macedônia, norte da Grécia. Enquanto curte a bela idade, se gaba sempre de que isso tudo começou quando chegou à minha atual idade e decidiu parar de fumar (quem o vê não pode imaginar que tenha sido, algum dia, fumante) e abdicou de comer carnes verdes para optar pelo cardápio vegetariano. Sem contar com a eterna ginástica, caminhadas, sexo e outras estripulias que geralmente a terceira idade já não consegue fazer!
Eu que estou na minha segunda juventude, já pareço um velho arcaico cheio de doenças, cansado, estressado... O pior é que não bebo e nem fumo, entretanto adoro comer carnes (todas elas!), sou um workaholic e me divido em diversas funções acreditando num sonho quixotesco de salvar o mundo, mas mal consigo salvar a própria pele. Quando não estou no computador do Fórum, atrás de uma pilha de processos, estou no computador da TV elaborando mil projetos, ou no computador de casa escrevendo artigos ou trabalhos de aula.
Posso dizer que sou o Ninobanco, o banco que funciona 30 horas! Insone, assisto o Corujão e “notinavego” na internet escrevendo em blogs, acessando os orkuts da vida, batendo papos e enviando e-mails, e de vez em quando dando uma “espiadinha” em sites menos recomendáveis, pois o cansaço não me deixa dormir. Quando enfim as pálpebras capitulam, meu galo eletrônico do celular cacareja: Aco-corda, Caaaara!
E haja pílula pra dormir, pra diminuir apetite, pra acabar com a dor disso, daquilo, daquilo outro... Dia desses, na madrugada de sexta pra sábado (dia de dor de barriga) peguei o saquinho de pílulas meio dormindo-em-pé e nem vi as instruções de como e quando tomá-las. Resultado: acabei tomando um laxante (que nem era meu) e passei a madrugada sentado no velho trono!
Pior ainda foi uma época em que recebi pílulas de todas as cores e de todos os tamanhos (me recusei apenas de usar o supositório e as injeções, que aí já era demais...). “Um tratamento infalível, para curar todas as dores” – dizia, sorridente, meu médico (com cifrões no lugar das pupilas antevendo as comissões que receberia do representante da indústria farmacêutica...).
Como vivia me esquecendo do que tomar, passei a ingerir pílulas que me ajudavam a recordar de que pílulas eu deveria tomar: a pílula azul me ajudava a recordar que às seis da manhã era hora de tomar a pílula verde; a pílula verde me recordava que às 10 horas era para tomar a pílula vermelha, para recordar de tomar a pílula amarela ao meio-dia, que enfim me recordaria de tomar a pílula roxa que era para... bom, me esqueci pra que servia esta última pílula...
Podem imaginar como o tratamento não deu certo?!
Por dever de ofício e de cidadania tenho lutado pela abertura do Hospital Regional, mas pergunta se vou querer entrar lá? Tenho verdadeira aversão a médicos, clínicas e hospitais!
O último tratamento de dente que fiz abandonei no meio, quando o dentista falou que precisava fazer “uma pequena cirurgia na gengiva”. Todo paciente de dentista vive de boca aberta, pois é a única profissão que nos deixa de queixo caído e por isso perguntei, boquiaberto: “xinxeramentxe, como xerá exa xirurxia na xenxiva, dotxô?”. Ele responde simetricamente: “um pequeno corte longitudinal, para abrir uma cavidade próximo ao palato para que eu possa introduzir um aparelho e...”.
Eu já estava desmaiado... Foi o jeito me dispensar e dar mais pílulas, para que eu retornasse outro dia. Até hoje não voltei lá.
E assim vou levando minha vida em pílulas, até que a morte me separe...
(P.S.= a única pílula que ainda não é bem-vinda em meu cardápio é a pílula azul.)

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