Educação é ruim e desigual no Pará
Ao ser divulgado pelo Ministério da Educação, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) colocou as escolas públicas do Pará em situação ruim, como a quarta pior educação pública do Brasil. Na semana passada, com a divulgação do Ideb por escolas em todo o País, o MEC trouxe uma nova informação. No Pará, além de ruim, a educação pública é desigual. Enquanto há escolas municipais, estaduais ou até em regime de convênio com padrão semelhante ou melhor do que muitas escolas particulares, há escolas tão ruins que só não estão fechadas porque não haveria nada melhor para substituí-las no bairro onde estão funcionando. Para mensurar o quanto a educação básica pública - o equivalente à educação Infantil e ao ensino fundamental, antigo primeiro grau - nas escolas no Pará precisa melhorar, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pelo índice, usou dados quantitativos - como número de escolas por cidade - e qualitativos, em que levou em conta a lógica de que o ensino ideal é aquele em que todas as crianças e adolescentes têm acesso às salas de aula, não perdem tempo com repetência, não abandonam a escola e são capazes de levar o aprendizado adquirido nos bancos escolares para a vida prática.
No Pará, que tem Ideb geral de 2,8 - a média nacional é 3,9 para a primeira etapa do ensino fundamental -, foram avaliadas 1.961 escolas em todos os municípios e somente cinco delas tiveram índice igual ou superior a 5,0, nota considerada adequada pelo MEC por ser semelhante ao índice das escolas dos países desenvolvidos e a meta a ser alcançada no Brasil até 2022. A melhor nota no Pará (6,1) ficou com a Escola Tenente Rêgo Barros, uma ilha de excelência ainda limitada, em grande parte, a filhos de militares da Aeronáutica e demais forças armadas. A pior nota (0,8) está também na capital, na Escola Estadual de Educação Fundamental Panorama XXI, uma pequena escola do Estado erguida no conjunto homônimo e que não possui sequer quadra de esportes para educação física e lazer. Entre os dois extremos, há 778 escolas com índice inferior a 3,0, sendo que 40 delas tiveram nota abaixo de 2,0 (numa escala de 0 a 10). Entre as escolas com notas baixas estão colégios tradicionais de Belém, como o Pedro Carneiro, Vilhena Alves, Justo Chermont, Deodoro de Mendonça, Paulino de Brito, Pedro Amazonas Pedroso, Vera Simplício, Santa Maria de Belém e Augusto Meira, entre outros. Consultado sobre a qualidade da educação quando da divulgação do Ideb por municípios, o sub-secretário de Educação, Bira Rodrigues, disse que o índice do Pará é 'lamentável, mas não surpreende'.
No Pará, que tem Ideb geral de 2,8 - a média nacional é 3,9 para a primeira etapa do ensino fundamental -, foram avaliadas 1.961 escolas em todos os municípios e somente cinco delas tiveram índice igual ou superior a 5,0, nota considerada adequada pelo MEC por ser semelhante ao índice das escolas dos países desenvolvidos e a meta a ser alcançada no Brasil até 2022. A melhor nota no Pará (6,1) ficou com a Escola Tenente Rêgo Barros, uma ilha de excelência ainda limitada, em grande parte, a filhos de militares da Aeronáutica e demais forças armadas. A pior nota (0,8) está também na capital, na Escola Estadual de Educação Fundamental Panorama XXI, uma pequena escola do Estado erguida no conjunto homônimo e que não possui sequer quadra de esportes para educação física e lazer. Entre os dois extremos, há 778 escolas com índice inferior a 3,0, sendo que 40 delas tiveram nota abaixo de 2,0 (numa escala de 0 a 10). Entre as escolas com notas baixas estão colégios tradicionais de Belém, como o Pedro Carneiro, Vilhena Alves, Justo Chermont, Deodoro de Mendonça, Paulino de Brito, Pedro Amazonas Pedroso, Vera Simplício, Santa Maria de Belém e Augusto Meira, entre outros. Consultado sobre a qualidade da educação quando da divulgação do Ideb por municípios, o sub-secretário de Educação, Bira Rodrigues, disse que o índice do Pará é 'lamentável, mas não surpreende'.
FÓRMULAS
Com escolas públicas do Estado e dos municípios niveladas por notas baixas e recursos escassos no orçamento para educação, o que faz diferença entre uma escola pública de qualidade e outra que se torna um depósito de crianças? A resposta pode estar em fórmulas simples, que fazem parte dos manuais de didática e pedagogia mais antigos: empenho dos educadores e envolvimento da família na vida escolar. Melhor escola de Ananindeua e sétima melhor do Estado, a Escola Municipal Nossa Senhora Auxiliadora conseguiu nota 4,9 em um município em que a maioria não passou dos sofríveis 3,0. Com 471 alunos, não recebe nada a mais do que as outras escolas da Secretaria Municipal de Educação, mas possui uma diretora e uma coordenadora pedagógica que fazem diferença. 'A gente se dedica junto com os professores. Temos um projeto político-pedagógico que está sempre em avaliação. O que dá certo, a gente continua; o que está errado, a gente muda', disse Rosa Maria Siqueira de Carvalho, coordenadora pedagógica. Outra lição da pequena escola municipal da Cidade Nova 6 é que todos os trabalhos escolares são concluídos em sala de aula e os pais são informados de tudo o que é ensinado aos filhos e chamados a participar ativamente da vida escolar. 'Quando o pai não se envolve, ele é chamado a se envolver. A educação é 50% da escola, 50% dos pais', completou. E mais uma lição: não é porque a escola é pública que ela precisa se contentar com um nível ruim. 'O direito da criança é estudar, é estar na escola, então, não podemos fazer de conta que damos aula', conclui a diretora Ariete Oliveira Silva Leitão, há 23 anos na escola. O resultado do empenho é que o índice de aprovação é de 94% e o abandono não passa de 2% ao ano.
No extremo oposto, está a Escola Panorama XXI, no conjunto de mesmo nome, a pior do Estado, segundo o Ministério da Educação. É fácil entender porque a Panorama XXI tem Ideb 0,8 . Ela foi abandonada nas mãos de uma diretora, que, sozinha, não consegue vencer todos os desafios da educação numa área pobre e de risco social para crianças e adolescentes. A escola não possui quadra de esporte ou qualquer laboratório e começa a ensinar a partir da 3ª série do ensino fundamental - ou seja, já recebe alunos com mazelas deixadas por outras escolas na fases pré-escolar e de alfabetização, justamente aquelas que determinam o futuro desempenho dos alunos. E o pior: na escola não há nenhum assistente pedagógico, psicólogo escolar ou qualquer outro profissional que faça o mínimo acompanhamento do conteúdo ensinado na sala de aula. Sozinha, a diretora Ercília Oliveira não consegue acompanhar o rendimento das turmas e, assim, a escola pouco envolve os pais naquilo que os alunos aprendem ou deixam de aprender. 'A escola passou a ser um depósito de crianças. Os pais precisam trabalhar, matriculam os filhos, dizem o horário, mas não acompanham o que o aluno está fazendo'. O resultado é que o índice de repetência na Panorama XXI chega a 30%, número, segundo a própria diretora, 'camuflado na dependência', sistema que permite aos alunos acesso às séries mais avançadas mesmo sem um bom desempenho no conteúdo anterior.
Com escolas públicas do Estado e dos municípios niveladas por notas baixas e recursos escassos no orçamento para educação, o que faz diferença entre uma escola pública de qualidade e outra que se torna um depósito de crianças? A resposta pode estar em fórmulas simples, que fazem parte dos manuais de didática e pedagogia mais antigos: empenho dos educadores e envolvimento da família na vida escolar. Melhor escola de Ananindeua e sétima melhor do Estado, a Escola Municipal Nossa Senhora Auxiliadora conseguiu nota 4,9 em um município em que a maioria não passou dos sofríveis 3,0. Com 471 alunos, não recebe nada a mais do que as outras escolas da Secretaria Municipal de Educação, mas possui uma diretora e uma coordenadora pedagógica que fazem diferença. 'A gente se dedica junto com os professores. Temos um projeto político-pedagógico que está sempre em avaliação. O que dá certo, a gente continua; o que está errado, a gente muda', disse Rosa Maria Siqueira de Carvalho, coordenadora pedagógica. Outra lição da pequena escola municipal da Cidade Nova 6 é que todos os trabalhos escolares são concluídos em sala de aula e os pais são informados de tudo o que é ensinado aos filhos e chamados a participar ativamente da vida escolar. 'Quando o pai não se envolve, ele é chamado a se envolver. A educação é 50% da escola, 50% dos pais', completou. E mais uma lição: não é porque a escola é pública que ela precisa se contentar com um nível ruim. 'O direito da criança é estudar, é estar na escola, então, não podemos fazer de conta que damos aula', conclui a diretora Ariete Oliveira Silva Leitão, há 23 anos na escola. O resultado do empenho é que o índice de aprovação é de 94% e o abandono não passa de 2% ao ano.
No extremo oposto, está a Escola Panorama XXI, no conjunto de mesmo nome, a pior do Estado, segundo o Ministério da Educação. É fácil entender porque a Panorama XXI tem Ideb 0,8 . Ela foi abandonada nas mãos de uma diretora, que, sozinha, não consegue vencer todos os desafios da educação numa área pobre e de risco social para crianças e adolescentes. A escola não possui quadra de esporte ou qualquer laboratório e começa a ensinar a partir da 3ª série do ensino fundamental - ou seja, já recebe alunos com mazelas deixadas por outras escolas na fases pré-escolar e de alfabetização, justamente aquelas que determinam o futuro desempenho dos alunos. E o pior: na escola não há nenhum assistente pedagógico, psicólogo escolar ou qualquer outro profissional que faça o mínimo acompanhamento do conteúdo ensinado na sala de aula. Sozinha, a diretora Ercília Oliveira não consegue acompanhar o rendimento das turmas e, assim, a escola pouco envolve os pais naquilo que os alunos aprendem ou deixam de aprender. 'A escola passou a ser um depósito de crianças. Os pais precisam trabalhar, matriculam os filhos, dizem o horário, mas não acompanham o que o aluno está fazendo'. O resultado é que o índice de repetência na Panorama XXI chega a 30%, número, segundo a própria diretora, 'camuflado na dependência', sistema que permite aos alunos acesso às séries mais avançadas mesmo sem um bom desempenho no conteúdo anterior.
Qualificação, salários e projetos pedagógicos fazem a diferença
Todo jovem quando ingressa nas carreiras do Magistério sabe que está optando por uma profissão onde se ganha pouco, mas outro fator que influencia a qualidade do ensino é a média salarial e a qualidade da escola em que os educadores trabalham. Para a professora da Universidade Federal do Pará (UFPA) Ana Tancredi, doutora em Educação, o piso salarial nacional, uma reivindicação histórica do magistério, materializada agora em R$ 850 para uma jornada de 8 horas de trabalho, 'é simplesmente inaceitável'. 'Pergunto: que condição tem uma professora para discutir as questões fundamentais do ensino, como o projeto político-pedagógico, ou mesmo pensar em alternativas de superação das desafiantes questões que a escola enfrenta hoje, se ela não sabe se seu filho irá almoçar?', questiona.
Na melhor escola do Pará, a Rego Barros, todos os 117 professores fazem parte do quadro permanente da instituição, vários deles com sistema de dedicação exclusiva e gratificação de 60% pelas horas empregadas exclusivamente à escola. No último concurso, todos os aprovados tinham no currículo pelo menos uma especialização e atualmente pelo menos 10 professores estão licenciados para cursos de mestrado ou doutorado. O resultado é que poucos alunos do Rego Barros passam apenas as quatro horas regulamentares em sala de aula. Aqueles que estão se preparando para o vestibular estudam em um turno e fazem reforço em outro horário. Os demais alunos podem ser atendidos a qualquer horário nos chamados plantões de dúvidas com professores à disposição para esclarecimentos individuais. Na estrutura semanal de carga horária, os professores têm 24 horas em sala de aula, 16 horas para atividades extracurriculares e duas horas para reuniões de avaliação com pedagogos e supervisores educacionais.
Nada foge ao controle dos diretores, que têm canal direto de diálogo com os professores e os pais. Além de todo o conteúdo ser nivelado por séries e algumas disciplinas terem carga horária ampliada, quando uma turma vai mal, são feitas reuniões imediatas com todos os professores, pais e direção. Se um aluno tira uma nota vermelha, o pai é imediatamente chamado para conversar com o orientador. 'Com esse acompanhamento individual, nós diagnosticamos os problemas de aprendizagem. Já descobrimos alunos que tinham déficit porque apresentaram problema de audição', disse a coordenadora Joana D´arc Freitas. Com um sistema pedagógico organizado e monitorado, o Rego Barros pode exigir desempenho de seus estudantes. Segundo o diretor geral, Carlos Alberto Nobre da Silva, a média para aprovação é sete - e não cinco como na maioria dos colégios públicos do Estado -, e a dependência foi abolida. Os sistema disciplinar também é rígido com escalas de advertência, suspensão e até transferência - a última ocorreu em 2005. Em compensação, o colégio coleciona bons resultados. Foi o segundo melhor colocado estadual na última Prova Brasil realizada pelo MEC e é sempre um dos campeões de aprovação nos vestibulares das faculdades e universidades do Pará e do resto do Brasil. (J. A.)
Todo jovem quando ingressa nas carreiras do Magistério sabe que está optando por uma profissão onde se ganha pouco, mas outro fator que influencia a qualidade do ensino é a média salarial e a qualidade da escola em que os educadores trabalham. Para a professora da Universidade Federal do Pará (UFPA) Ana Tancredi, doutora em Educação, o piso salarial nacional, uma reivindicação histórica do magistério, materializada agora em R$ 850 para uma jornada de 8 horas de trabalho, 'é simplesmente inaceitável'. 'Pergunto: que condição tem uma professora para discutir as questões fundamentais do ensino, como o projeto político-pedagógico, ou mesmo pensar em alternativas de superação das desafiantes questões que a escola enfrenta hoje, se ela não sabe se seu filho irá almoçar?', questiona.
Na melhor escola do Pará, a Rego Barros, todos os 117 professores fazem parte do quadro permanente da instituição, vários deles com sistema de dedicação exclusiva e gratificação de 60% pelas horas empregadas exclusivamente à escola. No último concurso, todos os aprovados tinham no currículo pelo menos uma especialização e atualmente pelo menos 10 professores estão licenciados para cursos de mestrado ou doutorado. O resultado é que poucos alunos do Rego Barros passam apenas as quatro horas regulamentares em sala de aula. Aqueles que estão se preparando para o vestibular estudam em um turno e fazem reforço em outro horário. Os demais alunos podem ser atendidos a qualquer horário nos chamados plantões de dúvidas com professores à disposição para esclarecimentos individuais. Na estrutura semanal de carga horária, os professores têm 24 horas em sala de aula, 16 horas para atividades extracurriculares e duas horas para reuniões de avaliação com pedagogos e supervisores educacionais.
Nada foge ao controle dos diretores, que têm canal direto de diálogo com os professores e os pais. Além de todo o conteúdo ser nivelado por séries e algumas disciplinas terem carga horária ampliada, quando uma turma vai mal, são feitas reuniões imediatas com todos os professores, pais e direção. Se um aluno tira uma nota vermelha, o pai é imediatamente chamado para conversar com o orientador. 'Com esse acompanhamento individual, nós diagnosticamos os problemas de aprendizagem. Já descobrimos alunos que tinham déficit porque apresentaram problema de audição', disse a coordenadora Joana D´arc Freitas. Com um sistema pedagógico organizado e monitorado, o Rego Barros pode exigir desempenho de seus estudantes. Segundo o diretor geral, Carlos Alberto Nobre da Silva, a média para aprovação é sete - e não cinco como na maioria dos colégios públicos do Estado -, e a dependência foi abolida. Os sistema disciplinar também é rígido com escalas de advertência, suspensão e até transferência - a última ocorreu em 2005. Em compensação, o colégio coleciona bons resultados. Foi o segundo melhor colocado estadual na última Prova Brasil realizada pelo MEC e é sempre um dos campeões de aprovação nos vestibulares das faculdades e universidades do Pará e do resto do Brasil. (J. A.)
O Liberal
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