26 dezembro, 2007

Governo pretende escoar parte da safra agrícola por porto no Maranhão

Para minimizar uma das principais preocupações dos produtores rurais - o escoamento da safra no período de comercialização -, o governo pretende, a partir do fim de 2008, deslocar parte da produção agrícola tradicionalmente embarcada nos portos do Sul e Sudeste, principalmente em Paranaguá (PR) e Santos (SP), para o Porto do Itaqui, no Maranhão.
A idéia é que boa parte das safras de Mato Grosso, sul do Pará, Tocantins, norte de Goiás, sul do Piauí, sul do Maranhão e oeste da Bahia seja direcionada para Itaqui, que receberá investimentos do governo para ampliar a capacidade. Hoje, Itaqui tem capacidade para embarcar 1,8 milhão de toneladas de grãos por ano, pouco para um País que produzirá cerca de 130 milhões de toneladas de grãos na safra que começa a ser colhida em fevereiro. Exportar pelo Norte é alternativa que reduz o tempo de viagem do produto e pode baratear o frete.
Segundo o diretor do Departamento de Infra-Estrutura e Logística, Biramar Nunes de Lima, do Ministério da Agricultura, um navio que sai de Itaqui chega à Europa 7 ou 9 dias antes do que um que sai de Santos ou Paranaguá. A redução de tempo reflete-se no bolso do produtor. Para cada saca de soja exportada por Itaqui, há economia, no frete, de R$ 1,50 a R$ 2. 'A diferença de R$ 1, R$ 1,50 ou R$ 2 na saca de soja às vezes é o lucro que o produtor tem.'
O governo afirma que fará investimentos para elevar a capacidade de Itaqui para embarque de 6 milhões de toneladas de soja e derivados no fim de 2008. Entre 2011 e 2012, a demanda para escoamento deve chegar a 12 milhões de toneladas. 'Quando chegar esse momento, em se tratando de produtos agrícolas, Itaqui deve ser mais importante do que Paranaguá', disse Lima. O otimismo não é compartilhado pela iniciativa privada. 'Não podemos confiar no governo. A construção do Terminal de Grãos (Tegram) está atrasada em ao menos três anos', lembra Luiz Antônio Fayet, consultor da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil para Assuntos de Infra-Estrutura. Lima disse que não faltará dinheiro para ampliar a capacidade de embarque de Itaqui. Está prevista liberação de R$ 110 milhões para a primeira fase das obras, recurso previsto no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Nessa fase, serão necessários R$ 220 milhões. Os R$ 110 milhões restantes viriam da iniciativa privada, possivelmente uma multinacional, que construirá um terminal para estocar grãos. Lima reconhece a lentidão do governo. 'Há tempo estamos trabalhando nisso. Sei que as coisas já deveriam ter ocorrido.' O investimento privado para construção do Tegram deve demorar 10 meses para ser concluído.
MIGRAÇÃO
Além de Itaqui, no longo prazo, os planos do governo para escoar a produção agrícola reservam atenção especial para o Porto de Belém (PA), também na região Norte. 'Nossa concepção é a de que, no futuro, boa parte dos novos fluxos agrícolas (oriundos da região Centro-Oeste) terá de se dirigir para o Norte', disse o secretário de Política Nacional de Transportes, Marcelo Perrupato, do Ministério dos Transportes.
Segundo ele, a Ferrovia Norte-Sul, recentemente concedida à Vale, que deve ligar o Maranhão a Palmas (TO) em 2009, será importante eixo para levar produtos do Centro-Oeste para Itaqui. Ele explicou que a migração do escoamento está relacionada a dois fatores: os portos do Norte estão mais próximos dos mercados europeu e americano e as economias das regiões Sul e Sudeste já viveram processos de industrialização mais avançado.
Assim, os principais portos dessas regiões, como Santos e Paranaguá, precisam estar focados na exportação de bens de maior valor agregado. 'Os portos do Sul e Sudeste continuarão movimentando cargas como açúcar, soja e etanol. Mas não poderemos sobrecarregar o sistema de acessos a esses portos com a grande quantidade de grãos que será produzida nas próximas décadas no Centro-Oeste', disse Perrupato.
INTERLIGAÇÃO
Para tornar viável a maior diversificação do uso dos portos, a estratégia de longo prazo do governo prevê a construção de novos corredores de escoamento e a interligação de malhas ferroviárias. O Ministério dos Transportes anunciou que pretende, no futuro, fazer com que a Norte-Sul chegue a São Paulo, interligando-a à malha ferroviária do Sudeste. Outro projeto prevê a ligação da Norte-Sul com a Ferrovia Transnordestina. Se ocorrer, a Norte-Sul estará conectada aos portos nordestinos de Pecém (CE) e Suape (PE). 'Teremos possibilidade de os portos competirem entre si. O usuário poderá escolher, pelo critério da menor tarifa, se embarca por Itaqui ou Pecém', exemplificou o diretor do Departamento de Planejamento e Avaliação da Política de Transportes do Ministério dos Transportes, Francisco Luiz Baptista. Lima lembra, ainda, da idéia de desenvolver a hidrovia Teles Pires-Tapajós, no Mato Grosso, que demandará R$ 600 milhões. 'Se conseguirmos viabilizar o Porto de Santarém, o grosso da produção de soja do Mato Grosso seguirá um pouco de caminhão e entrará na hidrovia.' Para empresários, o transporte intermodal não tem se mostrado viável. 'Estudos feitos no Rio São Francisco mostram que é preciso redução de custos, mas a proposta de desafogar os portos do Sul e Sudeste é um grande passo', disse o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão, João Carlos Rodrigues.
Agência Estado

Anúncio provido pelo BuscaPé
Baixaki
encontre um programa:
www.g1.com.br