29 março, 2007

Povo Munduruku Cobram Melhor Atendimento

Por Nonato Silva

A prestação de serviço à saúde do povo indígena Munduruku coordenada pela Funasa e executada pela Fundação Esperança, vem deixando os indígenas do alto Tapajós com insatisfação e indignação. A discussão sobre a saúde indígena vem se arrastando desde quando foi extinto em 31 de maio de 2005 o convênio da Funasa com a prefeitura de Jacareacanga.
Há dois anos o então coordenador estadual da Fundação Nacional de Saúde/FUNASA, Parcifal Fontes, esteve em Jacareacanga onde se reuniu com o prefeito Carlos Veiga, alguns vereadores e com várias lideranças indígenas para tomar conhecimento sobre as ações da FUNASA e da Fundação Esperança a conveniada que está executando o programa de saúde voltado para o povo indígena.
Na oportunidade o coordenador ouviu várias queixas das lideranças indígenas, que cobraram maior operacionalidade tanto da FUNASA quanto da Fundação Esperança dentro das aldeias no alto Tapajós. A maior queixa dos indígenas ao então coordenador da Funasa foi quanto à prestação de serviços da conveniada, principalmente nas aldeias pólos, onde se concentra a maioria da população indígena Munduruku.
Desde quando foi extinto o convênio com a prefeitura de Jacareacanga no final de maio de 2005, a insatisfação, a incerteza e a preocupação tomaram conta de várias comunidades indígenas, isto ocorreu quando vários enfermeiros e auxiliares de enfermagem que já atuavam na área indígena há vários anos foram demitidos. O então coordenador da FUNASA Parcifal Fontes reconheceu a falha da conveniada quando comentou “A Fundação esperança não conseguiu ainda acertar para que se tenha uma prestação de serviços razoável”, acrescentando que o motivo do mau atendimento dos funcionários da Funasa aos usuários indígenas era quanto ao atraso de salário que já completava 4 meses e as péssimas condições de trabalho oferecidas aos profissionais da autarquia. O que ocasionou o atraso nos salários dos funcionários da Funasa, foi a transferência dos repasses da SAS da prefeitura local para o município de Novo Progresso há cerca de 700 quilômetros da cidade de Jacareacanga.
No inicio de 2006, aconteceram vários óbitos entre o povo Munduruku, principalmente entre crianças. Uma das principais causas que vitimou os munduruku naquela época, foi a desnutrição, diarréia e infecções respiratórias. As lideranças indígenas denunciaram a falta de medicamentos e de profissionais nas aldeias. Em 2006, uma equipe da Funasa de Brasília veio à Jacareacanga com o objetivo de resolver a situação. Foi marcada uma reunião com toda a liderança indígena, representantes da Fundação Esperança, representantes da Funai e representantes da Prefeitura de Jacareacanga. Muitas promessas foram feitas pelos representantes do Governo Federal para se resolver a questão da saúde do povo Munduruku.
Para as lideranças indígenas a única mudança que houve foi na direção da Coordenação do DSEI-Tapajós, quando demitiram o então coordenador Keneddy e nomearam o ex-vereador Raimundo Rosivaldo (foto). Agora em 2007 a situação da saúde do povo Munduruku nada mudou.
Para se ter uma idéia da gravidade da situação, de janeiro até março deste ano, morreram 18 indígenas, a maioria crianças. Mais uma vez representante da Funasa, Funai, Fundação Esperança e da Procuradoria Federal se reuniram com os representantes indígenas e representantes da Prefeitura de Jacareacanga para discutir o assunto. A reunião aconteceu no Centro Cultural Stefanni Ziotto, no dia 27 de março.
Segundo o relatório da Coordenadora Técnica do DSEI-Tapajós Helga Follmann a mais nova morreu com 17 dias de nascida, 02 adultos e 4 crianças nasceram mortas. Inclusive houve uma vítima de meningite. No relatório que foi entregue aos conselheiros indígenas de saúde, a Coordenadora do DSEI relata que durante quase todo o mês de janeiro não havia médico no Hospital Municipal de Jacareacanga.
A veracidade do relatório foi questionada pelo prefeito Carlos Veiga, que durante a reunião fez críticas quanto à forma de como foi produzido o relatório da Funasa. “Em nenhum momento faltou médico no Hospital Municipal. Esse relatório tem conotação política e em nenhum momento condiz com os fatos. Temos dois médicos e uma equipe enfermeiros e técnicos em enfermagem. São profissionais responsáveis que em nenhum momento deixaram de atender a nenhum usuário que procurou aquela unidade hospitalar”, questionou o prefeito, acrescentando que “o serviço de saúde que é ofertado pelo SUS é dirigido a todos, sem distinção de raça ou credo religioso”. Em resposta a Coordenadora Técnica do DSEI-Tapajós Helga Follmann, alegou que o referido relatório era parcial que iria mudar o texto.
Durante a reunião várias lideranças indígenas usaram a palavra e denunciaram à Funai aos Procuradores Federais, bem como, a falta de medicamentos nas aldeias. O presidente do Conselho Indígena de Saúde Roberto Crixi, pediu a Funasa relatórios sobre o uso dos recursos na saúde indígena. “Eu gostaria de pedir diante dos procuradores federais, que a Funasa e a Fundação Esperança passasse ao Conselho, prestação de contas trimestrais, sobre o uso do dinheiro usado na compra de medicamentos”, cobrou Roberto Crixi, acrescentando que na sua aldeia uma certa vez havia 14 receitas médicas à espera de medicamentos há mais de 30 dias.
Já o vice-prefeito José Crixi, lembrou que os técnicos em enfermagem da área indígena deveriam fazer visitas domiciliares. “Não adianta só passar a medicação e não acompanhar nas residências pra saber se o indígena está tomando corretamente o remédio. Enquanto a gente só conversa aqui, os nossos filhos e netos estão morrendo”, desabafou José Crixi.
Para Carlos Akay a preocupação é a falta de medicamentos nas farmácias das aldeias pólos. “O médico vai nas aldeias faz as consultas e não têm medicamentos para os pacientes. Nós queremos medicamentos, pois o médico não vai tratar só com a caneta e o papel”, criticou Carlos Akay.
Já o médico Rafael Marinho, funcionário da Funasa e há 9 anos exercendo a medicina, confirmou a denuncia de Carlos Akay, quando disse que realmente falta medicamentos nas aldeias. “ Em novembro do ano passado fiz uma lista de medicamentos básicos e não básicos para serem comprados com urgência. E até hoje essa medicação não apareceu. Falta medicamentos, falta qualidade técnica e a prática das ações param no discurso”, desabafou o médico.

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